Clube das Histórias
Projecto: Abrir as portas ao sonho e à reflexão
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A pastora Aurora
No cimo duma serra, num ninho que os pássaros tinham feito para ela, vivia uma fada. Era pequenina, alegre, de olhos muito claros e uma engraçada cabeleira toda aos caracóis. Por isso lhe chamavam a fada Caracolinhos.
Por essa mesma serra, andava a guardar gado uma pastora chamada Aurora. Muitas vezes, Caracolinhos ia visitar a pastora para a ajudar a encontrar alguma ovelha perdida ou só para conversar, para encher os dias da pequena Aurora que nunca tinha com quem brincar.
Uma tarde, a fada encontrou a sua amiga mais pensativa do que era habitual.
— Que tens, Aurora? — perguntou a fada. — Estás triste?
— Não, não estou triste — respondeu a pastora. — Estive a pensar que devem existir coisas lindas para lá desta serra onde sempre vivi. Fala-me de tudo o que sabes e de tudo o que viste.
Sempre gentil, Caracolinhos falou longamente das árvores, dos vales, das águas do mar, das areias das praias, da neve das serras...
Quanto mais ouvia a fada, mais pensativa ficava Aurora.
— Gostava de ver o mar... — disse por fim a pastora.
Caracolinhos riu-se.
— Nada mais fácil. Anda comigo — convidou a fada.
Um leve toque da varinha de condão e as duas amigas estavam já na praia, onde o mar se desfazia em espuma.
— Olha, Caracolinhos, estão ali os meus carneiros! — admirou-se a pastora.
— Não, Aurora, não são os teus carneiros. O que estás a ver são as ondas do mar — explicou a fada.
Mas a pastora teimou:
— Talvez sejam ondas do mar, mas a mim parece-me que estou a ver os meus carneiros a correr e a saltar.
Voltaram para a serra e nessa noite a pastora sonhou com as ondas do mar.
No dia seguinte, Aurora fez outro pedido à sua amiga:
— Leva-me a ver a neve nas montanhas.
Novo toque da varinha de condão e já os olhos de Aurora se abriam para as altas montanhas das neves eternas.
— Olha, Caracolinhos, está ali o meu rebanho!
— Não, Aurora, o que vês além é neve e gelo que cobrem as serras — explicou a fada.
— Talvez — disse a pastora — mas parece mesmo o meu rebanho.
Nessa noite Aurora sonhou com a neve que caía na serra.
Passados dias, a pastora pediu à fada que a levasse a ver as árvores do vale. Quando lá chegaram, as árvores estavam cobertas de lindas flores brancas.
— Olha, Caracolinhos, olha ali o meu rebanho!
— Não, Aurora, o que tu vês são as flores das árvores do vale — explicou pacientemente a fada.
— Está bem. Tu dizes que são flores, mas o que eu vejo ali é o meu rebanho! — insistiu a pastora.
No dia seguinte, Aurora nada pediu à fada. Olhava o rebanho e sorria.
— Onde vamos hoje? — quis saber Caracolinhos.
— Fico por aqui — disse a pastora. — Fico a olhar as ondas do mar, as flores do vale e a neve na serra. Repara bem. Olha o meu rebanho. Não vês ali a brancura da neve? Não vês ali o ondular das águas do mar? Não vês além as nuvens que se juntam e se afastam? Vejo tudo isso, olhando o meu rebanho.
A fada e a pastorinha sorriam, enquanto o rebanho se espalhava pela encosta da serra.
Natércia Rocha
Castelos de areia
Venda Nova, Bertrand Editora, 1995
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Caros leitores,
O Projecto intitulado Clube de Contadores de Histórias, nascido em 2006 na Escola Secundária Daniel Faria – Baltar, tem vindo, ao longo dos anos, a difundir-se de uma forma significativa, não só em Portugal, mas também no Brasil e nos países africanos de língua portuguesa. No sentido de assegurar a continuidade de referido clube, foi constituída uma equipa pedagógica, formada por professores de vários grupos disciplinares e provenientes de diversos estabelecimentos de ensino, que tomarão a seu cargo a selecção, preparação e envio de uma história semanal por correio electrónico, tal como habitualmente tem vindo a ser feito.
Esperando que o projecto continue a merecer a melhor atenção por parte do público leitor, despede-se com os melhores cumprimentos,
A Equipa Coordenadora do Clube das Histórias
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