V - Viver no Campo - Teresinha




CICLO DA VIDA

Uns ciclos terminam e outros começam. A Avó Eva era uma mulher cheia de vitalidade, paixão e inteligência. Apesar de já estar um pouco alheada das coisas, fui dar a conhecer a sua bisneta quando nasceu. Pegou na Teresinha ao colo, beijou e disse que era um bebé bonito. Fiquei emocionada por poder apresentar a minha filha a uma mulher que tanto me marcou. No dia 20 de Abril a Teresinha perdeu a sua única bisavó. Com 97 anos a Avó Eva decidiu partir no dia em que o meu pai/seu filho faria 67 anos. São os ciclos e sinais da vida. Espero saber transmitir á minha filha coisas tão boas como esta mulher me transmitiu.

Começa um novo ciclo. A nossa horta está a começar. Depois de fresada a terra (desbastada, revolvida, cortadas as ervas), fizeram-se as regadeiras e plantámos as primeiras coisas: alfaces, tomates, cebolas, couves, beringelas, brócolos, melancia, melão e muito mais! Veremos se o calor e as fortes chuvadas não nos estragam as colheitas. Estamos muito entusiasmados pois este era um dos grandes projectos para 2011.

Em homenagem á Terra e á Vida:

Ode á Terra - Miguel Torga

Também eu quero abrir-te e semear


Um grão de poesia no teu seio!


Anda tudo a lavrar,


A abrir leques de sonho e de centeio,

E são horas de eu pôr a germinar


A semente dos versos que granjeio.

Na seara madura de amanhã


Sem fronteiras nem dono,


Há de existir a praga da milhã,


A volúpia do sono


Da papoula vermelha e temporã,


E o alegre abandono


De uma cigarra vã.



Mas das asas que agite,


O poema que cante


Será graça e limite


Do pendão que levante


A fé que a tua força ressuscite!



Casou-nos Deus, o mito!


E cada imagem que me vem


É um gomo teu, ou um grito


Que eu apenas repito


Na melodia que o poema tem.



Terra, minha aliada


Na criação!


Seja fecunda a vessada,


Seja à tona do chão,


Nada fecundas, nada,


Que eu não fermente também de inspiração!



E por isso te rasgo de magia


E te lanço nos braços a colheita


Que hás de parir depois...


Poesia desfeita,


Fruto maduro de nós dois.



Terra, minha mulher!


Um amor é o aceno,


Outro a quentura que se quer


Dentro dum corpo nu, moreno!



A charrua das leivas não concebe


Uma bolota que não dê carvalhos;


A minha, planta orvalhos...


Água que a manhã bebe


No pudor dos atalhos.



Terra, minha canção!


Ode de pólo a pólo erguida


Pela beleza que não sabe a pão


Mas ao gosto da vida!

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