1. "Proibido insultar o jardim-de-infância chamando-lhe "escolinha".
Em primeiro lugar, porque é uma escola. Em segundo, porque todas as
escolas ganhavam se ligassem Brincar com aprender.
2. É proibido que os pais imaginem que o jardim-de-infância serve para
aprender a ler e contar. Ele é útil para aprender a descobrir os
sentimentos. Para aprender a imaginar e a fantasiar. Para aprender com
o corpo, com a música e com a pintura. E para brincar. Uma criança que
não brinque deve preocupar mais os pais do que se ela fizer uma ou
outra birra, pela manhã ao chegar.
3. O jardim-de-infância assusta as crianças sempre que os pais - como
quem sossega nelas os medos deles por mais um dia de
jardim-de-infância - lhes repetem: " Hoje vai correr tudo bem!"
4. Os pais estão proibidos de despedir-se muitas vezes das crianças,
ao chegarem todos os dias. E é bom que se decidam: ou ficam contentes
por elas correrem para os amigos ou ficam contentes por elas se
agarrarem ao pescoço deles, com se estivessem prestes a ser
abandonadas para sempre.
5. É proibido que as crianças vão dia-sim dia-não ao
jardim-de-infância. E que vão, simplesmente, quando os seus caprichos
infantis vão de férias. E que não vão " só porque sim". O
jardim-de-infância não é um trabalho para os mais pequenos. É uma bela
oportunidade para os pais não se esquecerem que se pode amar o
conhecimento, namorar com a vida, nunca ser feliz sozinho e brincar,
ao mesmo tempo.
6. No jardim-de-infância não é obrigatório comer até à última colher;
nem dormir todos os dias. E não é nada mau que uma criança se baralhe
e chame pai/mãe ao educador/a (ou vice-versa).
7. Os pais estão obrigados a estar a horas quando se trata duma
criança regressar a casa. Prometer e faltar devia dar direito a que os
pais fossem sujeitos classificados como tendo necessidades educativas
especiais.
8. Os pais não podem exigir aos filhos relatórios de cada dia de
jardim-de-infância. Mas estão autorizados a ficar preocupados se as
crianças forem ficando mais resmungonas, mais tristonhas ou, até, mais
aflitas, sempre que regressam de lá. E estão, ainda, autorizados a
proibir que o jardim-de-infância só se abra para eles durante as
festas.
9. O jardim-de-infância é uma escola de pais. E um lugar onde os
educadores são educados pelas crianças. Um lugar onde todos se educam
uns aos outros não é uma escola como as outras. É um
jardim-de-infância.
10. Um dia, num mundo mais amigo das crianças, todas as escolas serão
jardins-de-infância!"
Por Eduardo Sá (Psicólogo)
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